Qual a melhor idade para o desfralde e como fazer?

O momento de deixar a fralda para trás é um marco no desenvolvimento da criança. Afinal, o desfralde representa uma nova fase, relacionada ao crescimento e à independência dos pequenos.

Acima do desejo dos pais em retirar a fralda, no entanto, está a necessidade de respeitar o tempo de cada criança. Afinal, trata-se de um processo desafiador, que exige maturidade e capacidade neurológica por parte dos pequenos, além de muito carinho, atenção e respeito de todos os envolvidos. 

Acompanhe neste post, o que é o desfralde, como e quando iniciar o processo, quanto tempo dura, dicas que podem auxiliar e o que evitar durante essa fase.

O que é o desfralde?

O desfralde ou Treinamento Esfincteriano (TE) é o processo em que a criança abandona o uso da fralda. Ele engloba toda a fase de transição, desde o momento em que a criança começa a apresentar os sinais de que está pronta para iniciar o processo (sinais de prontidão), até o momento em que a fralda deixa de ser utilizada por completo.

É considerado um marco de desenvolvimento importante na vida dos pequenos, pois demonstra, além de independência, que a criança está se desenvolvendo de acordo com o esperado. 

Afinal, avisar quando está prestes a urinar ou evacuar requer capacidade neurológica para controlar a musculatura dos esfíncteres e não permitir que as eliminações aconteçam antes de chegar ao banheiro ou local apropriado.

Os marcos de desenvolvimento são caracterizados por sinais, atitudes ou comportamentos esperados pelos bebês ou crianças em determinadas faixas etárias. Eles estão relacionados a aspectos neurológicos, psicológicos e motores, e servem como guias para que os profissionais verifiquem se o desenvolvimento dos pequenos está adequado para a idade.

Quanto tempo dura?

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) o prazo de duração de todo o processo pode variar de 6 a 12 meses.

Porém, é importante destacar, que cada criança é única e o tempo de duração do desfralde varia de acordo com o amadurecimento de cada uma. Somente elas são capazes de identificar o que estão sentindo e relatar isso a um adulto.

Cabe aos pais ou responsáveis criar um ambiente acolhedor, respeitoso, seguro e propício ao aprendizado, para encorajar os pequenos nesse processo.

Qual a melhor idade para o desfralde?

No Brasil, informações da SBP e da SBU trazem que a média de idade para o início do processo é de 1 ano e 10 meses, enquanto a conclusão acontece aos 2 anos e 3 meses. 

No entanto, é importante ressaltar que cada criança se desenvolve de uma forma e os pais não devem ficar presos à idade como critério para decidir o melhor momento de iniciar o processo de desfralde.

Como veremos a seguir, o melhor momento é quando o pequeno apresentar os sinais de prontidão. Essa metodologia faz parte da Abordagem Orientada para a Criança, sugerida pela Academia Americana de Pediatria (AAP) e revela que não há uma idade padrão.

Nesse processo, a fralda deve ser deixada de lado pela criança e não forçada a sair de cena pelos pais. O objetivo ainda é criar uma atmosfera saudável e um ambiente harmônico para o desenvolvimento, sem pressão ou estresse.

Também vale destacar que não é considerado um problema quando a criança tem perdas de xixi ou cocô até os 5 anos de idade. Por ser uma fase de aprendizado, é comum que isso aconteça, desde que se observe que o pequeno está se desenvolvendo de forma crescente. Procure ser gentil, converse com a criança e observe se não está passando por alguma dificuldade emocional.

Como iniciar o processo de desfralde?

O primeiro passo é reconhecer os sinais de prontidão. Segundo a SBP e da SBU, essas habilidades começam a ser demonstradas entre os 2 e 3 anos de idade e revelam que a criança tem a maturidade necessária para iniciar o processo. 

Mais uma vez, cabe ressaltar que os pais não devem se apegar somente ao critério idade e que cada criança é única em seus processos de aprendizagem.

Reconhecendo os sinais de prontidão

De acordo com o Manual de Orientação, um documento da SBP e SBU, os sinais de prontidão revelam a capacidade da criança em:

  • Imitar o comportamento dos pais ou cuidadores;
  • Querer agradar;
  • Desejar ser autônomo: insistir em concluir tarefas sem ajuda e orgulhar-se de novas habilidades;
  • Andar e estar apta a sentar de modo estável e sem ajuda;
  • Pegar pequenos objetos;
  • Ser capaz de dizer “não” como sinal de independência;
  • Entender e responder a instruções e seguir comandos simples;
  • Saber puxar as roupas para cima e para baixo;
  • Possuir um vocabulário simples referente ao treinamento esfincteriano;
  • Usar palavras, expressões faciais ou movimentos que indicam a necessidade de urinar ou evacuar;
  • Mostrar interesse em outras pessoas que estejam usando o banheiro;
  • Ficar seco por duas horas ou mais durante o dia;
  • Dizer que está “fazendo xixi” no momento da micção, em geral nos banhos;
  • Dizer aos pais que acabou de urinar ou evacuar em pequena quantidade na fralda e se incomodar com a fralda molhada. Tentar retirar a fralda molhada ou pedir para ser trocado (consciência física);
  • Não querer usar fraldas ou mostrar interesse em cuecas ou calcinhas;
  • Ficar parado no penico ou vaso sanitário por 3 a 5 minutos;
  • Permanecer brincando com a mesma atividade por mais de 5 minutos (caso a criança apresente dificuldades sempre, converse com o pediatra, pois pode ser um sinal de outras questões, como déficit de atenção ou autismo infantil);
  • Ser capaz de apontar o que deseja;
  • Ter iniciado a comunicação por palavras ou frases simples;
  • Não apresentar atrasos nos marcos do desenvolvimento neuropsicomotor segundo escalas validadas internacionalmente;
  • Compreender e seguir os comandos simples.

O papel dos pais ou responsáveis

Os pais e cuidadores têm papel fundamental no processo de desfralde, do reconhecimento dos sinais de prontidão até a preparação do ambiente e um clima adequado, seguro e confiável para os pequenos.

Todos devem usar a mesma linguagem e as mesmas orientações para que a criança não se sinta confusa, seja em casa ou na escola.

É importante ainda que os envolvidos no processo compreendam que os “escapes” são inevitáveis, mesmo após o desfralde completo. A criança pode urinar ou evacuar na roupa e os pais precisam demonstrar que isso acontece. Sem críticas ou repreensões físicas e/ou verbais.

Também evite fazer a transição do penico para o vaso sanitário se a criança ainda não estiver se sentindo segura. Adaptar o ambiente é um ponto fundamental para que o pequeno possa ter autonomia e se desenvolver.

Desfralde diurno e desfralde noturno

É normal haver uma diferença entre o desfralde noturno e o diurno. Mesmo que a criança não utilize mais fraldas durante o dia, é provável que permaneça usando durante a noite por mais um tempo. Isso porque é necessário que o pequeno desenvolva a maturidade e o controle de ficar à noite toda sem urinar ou evacuar. 

Mais uma vez, é imprescindível paciência, compreensão e observação dos pais em relação aos sinais da criança. Um exemplo, é perceber que o pequeno passa a acordar todos os dias com a fralda seca.

Incidentes e escapes também são comuns nessa fase e devem ser tratados com respeito e carinho, sem ofensas, castigos ou qualquer tipo de advertência.

O que evitar no desfralde?

A falta de sucesso no desfralde pode estar relacionada a alguns fatores, como:

  • Iniciar de forma precoce, sem que a criança apresente nenhum sinal de prontidão;
  • Agir com broncas ou advertências quando ocorrem os escapes;
  • Conduzir o desfralde sem paciência, com o intuito de agilizar o processo;
  • Comparar o seu filho com as demais crianças;
  • Desistir nos primeiros escapes;
  • Não alinhar ou falar sobre o desfralde com os cuidadores ou escola.

12 dicas para auxiliar no desfralde do pequeno

  1. Alinhe com todas as pessoas envolvidas como será o processo de desfralde. Pais, avós, tios, cuidadores e professores devem estar alinhados, usar o mesmo vocabulário e orientações.
  2. Decida com a criança o objeto a ser utilizado: penico ou vaso com assento redutor. É importante garantir que ambas as opções sejam seguras e confortáveis.
  3. Deixe a criança manusear os objetos (penico, assento, papel higiênico), sentar mesmo usando fralda e explique que ela também tem essas opções para urinar e evacuar.
  4. Permita que a criança o observe durante o uso do banheiro e mostre como você faz. Elas tendem a imitar os pais e irão perceber que esse é um processo normal.
  5. Incentive a criança a avisar quando urinou, evacuou ou quando sentir vontade. Pergunte sempre se ela deseja usar o penico ou o vaso sanitário e respeite a vontade do pequeno.
  6. Elogie o sucesso e também as tentativas de avisar, mesmo se houver escape.
  7. Aprenda a observar os sinais da criança. Elas geralmente demonstram quando estão com vontade de ir ao banheiro.
  8. Controle a ansiedade e não espere por resultados imediatos. Lembre-se, o desfralde é um processo.
  9. Use roupas confortáveis e fáceis de vestir. Deixe para usar calcinhas e cuecas após obter várias tentativas de sucesso. 
  10. Encoraje sempre com elogios e não com guloseimas ou presentes. Não use moedas de troca nem use punições ou agressões verbais quando ocorrer algum escape.
  11. Tenha tempo. Aproveite para fazer as tentativas durante os finais de semana, feriados prolongados ou férias.
  12. Deixe a criança usar o penico ou o vaso sanitário, mesmo com roupa. Procure descartar a fralda suja dentro do penico ou deixar a criança urinar ou evacuar sentada no penico de fralda para que se familiarize com o processo.

Diferença entre meninos e meninas

As dicas acima valem para ambos os sexos. Porém, alguns pontos de atenção merecem destaque no processo de desfralde entre meninos e meninas.

Meninos:

  • opte por calças e shorts fáceis de puxar para baixo;
  • adote a posição sentada no início, para evitar confusão;
  • durante o processo, o pai pode ensinar a urinar em pé;
  • ensine a direcionar o pênis corretamente para urinar (o penico é uma ótima ferramenta para isso).

Meninas:

  • ensine a fazer a higiene sempre de frente para trás, para evitar contaminação da vagina com as fezes e problemas como infecção urinária;
  • explique que deve levantar a saia ou o vestido ou baixar o shorts para sentar no vaso ou penico;
  • não use duchas vaginais.

Penico x vaso sanitário

Essa pode ser uma dúvida comum entre os envolvidos no desfralde e é importante que se decida pelo objeto a ser utilizado antes de iniciar o processo.

De acordo com a Abordagem Orientada para a Criança, da Associação Americana de Pediatria (AAP), o uso do penico é o mais recomendado no primeiro estágio. Isso porque as crianças costumam se sentir mais seguras, pois conseguem apoiar os pés e não tem água no fundo.

Além disso, é possível deixar o penico em outros ambientes ou levá-lo em passeios e viagens. Ele também pode ser escolhido junto com a criança e auxiliar na avaliação dos sinais de prontidão.

Por outro lado, algumas crianças gostam de imitar os pais e podem preferir o uso do vaso sanitário. Nesse caso, é importante colocar um assento e um apoio para os pés, de forma que a criança se sinta confortável e segura.

Como algumas crianças sentem medo de cair no vaso ou do barulho da água, explique a elas que existe a opção de usar o penico. Outra atitude positiva é que os pais mostrem sempre como utilizar o vaso sanitário para que a criança ganhe mais confiança aos poucos.

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